sábado, 16 de janeiro de 2010
O Prazer de Ler
Fui ao quarto fazer-lhe umas festas na cabeça, mas ela nem se mexeu. «Não tinhas aulas, hoje? Não queres tomar o pequeno-almoço? Queres que te vá buscar o comprimido?» A minha mulher está com umas olheiras roxas, já nem consegue chorar, fica de olhos abertos toda a noite. «Fizeste o exercício que te ensinei?» Os dardos ainda estavam na mesinha-de-cabeceira e a fotografia pregada na parede. Devagar virou-se para mim, pegou-me na mão, pediu numa vozinha sumida: «Não me obrigues a ir à escola, tiozinho, eu não aguento mais ir à escola!» «Quando é que acaba o atestado, desta vez? Já tinha acabado há uma semana. «Não queres atirar uns dardos, que te sentes logo melhor?» Ela gemeu. «Não consigo pôr-me agora a atirar dardos à fotografia do 8ºC! Como é que vou ter cara para os enfrentar?» «Eles não sabem que tu atiras dardos à fotografia!» «Nem podem saber!» disse ela. «É completamente antipedagógico.»
Luísa Costa Gomes, “Ilusão (Ou o Que Quiserem), pp.9,10
Imagem retirada de: http://www.osilenciodoslivros.blogspot.com/
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