domingo, 26 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Monumento Megalítico das Casas Velhas
Necrópole destinada a enterramentos individuais, constituída por cistas da Idade do Bronze. Estas estão assentes em plataformas, em forma de favo, dispostas em recinto tumular e sepulturas de planta rectangular ou trapezoidal formadas por esteios colocados verticalmente. Datam da Idade do Bronze 1500 / 1400 / 800 / 700 a.C. O monumento está classificado como Imóvel de Interesse Público.
Foto feita em Melides 19/12/10
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
domingo, 14 de novembro de 2010
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
sábado, 16 de outubro de 2010
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Um dos meus Mários
sábado, 18 de setembro de 2010
O Cavaleiro Corcunda
O Cavaleiro Corcunda
Projecto Pumba - Marionetas e Formas Animadas
Viajantes inseparáveis da sa carroça, servem-se dela para montar o palco onde contam as peripécias de Leopoldo, o corcunda, que terá que provar que está à altura de se tornar cavaleiro e casar com a linda princesa.
http://projectopumba.blogspot.com
Foto feita em Alvalade do Sado - 18/09/10
Alvalade Medieval
À semelhança dos anos anteriores, Alvalade, freguesia do concelho de Santiago do Cacém, comemora mais uma vez a concessão do Foral, que assinala este ano 500 anos. O evento, tem lugar no núcleo histórico de Alvalade, durante os dias 17, 18, 19 e 20 de Setembro de 2010.
Durante 3 dias, a vida quotidiana do homem da Idade Média é recriada em Alvalade com todo o rigor, através de um programa que compreende a realização de um cortejo... histórico onde estarão representadas todas as classes sociais da época, e uma Feira Medieval animada com trovadores, justas medievais, teatro, mostra e exibição de armas, danças medievais, venda de produtos e ainda um restaurante com ementa medieval.
Foto feita em Alvalade do Sado - 18/09/10
sábado, 11 de setembro de 2010
Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. Não faças poesia com o corpo, esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica. Tua gota de bile, tua careta de gozo ou de dor no escuro são indiferentes. Nem me reveles teus sentimentos, que se prevalecem do equívoco e tentam a longa viagem. O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz. O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas. Não é música ouvida de passagem; rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma. O canto não é a natureza nem os homens em sociedade. Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam. A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques, não indagues. Não percas tempo em mentir. Não te aborreças. Teu iate de marfim, teu sapato de diamante, vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas tua sepultada e merencória infância. Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação. Que se dissipou, não era poesia. Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. Convive com teus poemas, antes de escrevê-los. Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam. Espera que cada um se realize e consuma com seu poder de palavra e seu poder de silêncio. Não forces o poema a desprender-se do limbo. Não colhas no chão o poema que se perdeu. Não adules o poema. Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?
Repara: ermas de melodia e conceito elas se refugiaram na noite, as palavras. Ainda úmidas e impregnadas de sono, rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
Carlos Drummond de Andrade, in Pavablog.
Foto feita em Vila Real - 13/08/10
(...) Se os sentimentos são inerentes a estar aqui e ser humano, é necessário que, à partida, se procure os melhores, os positivos. Amar é um esforço intelectual. E quando se ama muito e só, sem espaços de sombra, transformamo-nos num sol. As plantas vivas dependem dessa estrela para chegarem à fotossíntese. Chamem-me hippy, chamem-me o que quiserem. Em qualquer dos casos, continuarei a saber de cor a letra de Something to belive in, Ramones, 1986.
José Luís Peixoto, Visão, nº 914
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo
(…) – Não percebo porque as árvores e as plantas não usam ceroulas, camisas, colarinhos altos e peitilhos de goma. (…) – Não me digam que as azinheiras não ficariam bem de capas à alentejana. Ou os castanheiros de capindós de burel. Quanto aos pinheiros, fantasio-os sempre de fraque, solenes, hirtos crepes nos chapéus de coco. (…)
José Gomes Ferreira in Aventuras Maravilhosas de João Sem Medo
Foto feita na Quinta de São João -06/08/10
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Sobre Literatura
A leitura das obras literárias obriga-nos a um exercício da felicidade e do respeito na liberdade de interpretação. Há uma perigosa heresia crítica, típica dos nossos dias, pela qual de uma obra literária se pode fazer o que se quiser, lendo nela o que nos sugerirem os nossos impulsos mais incontroláveis. Não é verdade. As obras literárias convidam-nos à liberdade de interpretação porque nos propõem um discurso a partir dos inúmeros planos de leitura e nos colocam perante as ambiguidades da linguagem e da vida. Mas para podermos avançar neste jogo, pelo qual cada geração lê as obras literárias de maneira diferente, temos de ser movidos por um profundo respeito em relação à que denominei algures por intenção do texto.
Umberto Eco
"Sobre Algumas Funções Da Literatura", Sobre Literatura, Difel, 2003
Umberto Eco
"Sobre Algumas Funções Da Literatura", Sobre Literatura, Difel, 2003
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
O Contrabaixo Patrick Süskind
Sabem… estou deveras apaixonado. Ou apaixonado, não sei. E ela também ainda não sabe. É a …de quem falei à pouco… a pequena … a do elenco da ópera, aquela cantora jovem que se chama Sarah … - É tudo muito improvável, mas se… se alguma vez chegar a vias de facto, alguma vez, então insisto em que o façamos em casa dela. Ou num hotel. Ou fora de portas, no campo, se não chover…
p. 36
p. 36
Código Secreto de Platão
Foi anunciado nos meios académicos que Jay Kennedy, um historiador de ciência da Universidade de Manchester, acaba de descobrir o "código secreto" do mais famoso dos filósofos gregos. O seu estudo foi publicado na revista "Apeiron", dedicada ao estudo da filosofia e ciência da Antiguidade, e é anunciado pelo próprio como o começo da descoberta da "filosofia escondida de Platão".
Jay Kennedy, um filósofo que estudou matemática em Princeton e Stanford antes de se dedicar aos estudos clássicos, baseia-se essencialmente na contagem das linhas dos textos gregos. A ideia pode parecer estranha, mas há várias razões que tornam comum este tipo de análise. Tão comum que constitui uma disciplina estabelecida, que dá pelo nome de "esticometria" (stíchos é linha, fila ou verso em grego).
A contagem das linhas era usual na Antiguidade pois os escribas eram habitualmente pagos à linha e o número de linhas de um manuscrito era o que dava uma medida rigorosa do seu tamanho. A contagem de linhas era também usada para verificar se as cópias estavam conformes aos originais. Por tudo isto, não será irrealista esperar que os manuscritos gregos antigos que reproduzem os escritos de Platão estejam organizados de forma semelhante à que o autor originalmente lhes deu.
Com a possibilidade de tratamento digital das imagens e de contagem automática de partes de um texto, a esticometria desenvolveu-se imenso; mas só agora, com Jay Kennedy, foi feito um estudo sistemático de todas as obras conhecidas de Platão. O estudioso confirmou que os diálogos estão organizados na base de múltiplos de 12, conforme outros já tinham intuído. Assim, a Apologia tem cerca de 1200 linhas, Protágoras, Crátilo, Filebo e o Simpósio 2400, Górgias 3600 e a República 12000. E descobriu que as passagens mais dramáticas aparecem entre o oitavo e o décimo doze avos de cada obra. Reparou ainda que os temas estão colocados no que parece ser o equivalente a uma escala musical, também ela baseada em 12 notas de uma oitava. Assim, os temas virtuosos aparecem em posições que correspondem a notas harmónicas, enquanto os temas negativos estão em posições que correspondem a dissonâncias musicais.
Todas estas afirmações parecem estar solidamente apoiadas nos números, embora haja sempre alguma subjetividade na marcação das passagens. O que talvez não seja tão extraordinário são os ajustamentos aos doze avos. Com efeito, 1/2, 1/3, 1/4 e 1/6 são todas frações que podem ser expressas em doze avos: 6/12, 4/12, 3/12 e 2/12. É natural que frações de 12 se encontrem frequentemente ao procurar partes de um todo.
A base 12 seria, aliás, uma base de numeração mais conveniente que a de 10, que hoje usamos. Por alguma razão nas medidas imperiais um pé tem doze polegadas e ainda hoje o mostrador de um relógio se subdivide em 12 horas. Isso acontece porque 12 tem muito mais divisores do que 10. Consideremos apenas os divisores próprios, isto é, os inteiros que dividem um número e que não são nem a unidade nem o próprio número. Enquanto 10 apenas é divisível por 2 e por 5, 12 é divisível por 2, 3, 4 e 6. O número 12 é o que se chama um "número abundante", pois a soma dos seus divisores próprios excede-o (2 + 3 + 4 + 6 = 15 >12). É, aliás, o mais pequeno número abundante. Não é de espantar que as frações com 12 no numerador abundem na esticometria de Platão. Esperemos, para ver se Jay Kennedy está na pista de algo verdadeiramente interessante.
Texto publicado na edição do Expresso de 14 de agosto de 2010
Jay Kennedy, um filósofo que estudou matemática em Princeton e Stanford antes de se dedicar aos estudos clássicos, baseia-se essencialmente na contagem das linhas dos textos gregos. A ideia pode parecer estranha, mas há várias razões que tornam comum este tipo de análise. Tão comum que constitui uma disciplina estabelecida, que dá pelo nome de "esticometria" (stíchos é linha, fila ou verso em grego).
A contagem das linhas era usual na Antiguidade pois os escribas eram habitualmente pagos à linha e o número de linhas de um manuscrito era o que dava uma medida rigorosa do seu tamanho. A contagem de linhas era também usada para verificar se as cópias estavam conformes aos originais. Por tudo isto, não será irrealista esperar que os manuscritos gregos antigos que reproduzem os escritos de Platão estejam organizados de forma semelhante à que o autor originalmente lhes deu.
Com a possibilidade de tratamento digital das imagens e de contagem automática de partes de um texto, a esticometria desenvolveu-se imenso; mas só agora, com Jay Kennedy, foi feito um estudo sistemático de todas as obras conhecidas de Platão. O estudioso confirmou que os diálogos estão organizados na base de múltiplos de 12, conforme outros já tinham intuído. Assim, a Apologia tem cerca de 1200 linhas, Protágoras, Crátilo, Filebo e o Simpósio 2400, Górgias 3600 e a República 12000. E descobriu que as passagens mais dramáticas aparecem entre o oitavo e o décimo doze avos de cada obra. Reparou ainda que os temas estão colocados no que parece ser o equivalente a uma escala musical, também ela baseada em 12 notas de uma oitava. Assim, os temas virtuosos aparecem em posições que correspondem a notas harmónicas, enquanto os temas negativos estão em posições que correspondem a dissonâncias musicais.
Todas estas afirmações parecem estar solidamente apoiadas nos números, embora haja sempre alguma subjetividade na marcação das passagens. O que talvez não seja tão extraordinário são os ajustamentos aos doze avos. Com efeito, 1/2, 1/3, 1/4 e 1/6 são todas frações que podem ser expressas em doze avos: 6/12, 4/12, 3/12 e 2/12. É natural que frações de 12 se encontrem frequentemente ao procurar partes de um todo.
A base 12 seria, aliás, uma base de numeração mais conveniente que a de 10, que hoje usamos. Por alguma razão nas medidas imperiais um pé tem doze polegadas e ainda hoje o mostrador de um relógio se subdivide em 12 horas. Isso acontece porque 12 tem muito mais divisores do que 10. Consideremos apenas os divisores próprios, isto é, os inteiros que dividem um número e que não são nem a unidade nem o próprio número. Enquanto 10 apenas é divisível por 2 e por 5, 12 é divisível por 2, 3, 4 e 6. O número 12 é o que se chama um "número abundante", pois a soma dos seus divisores próprios excede-o (2 + 3 + 4 + 6 = 15 >12). É, aliás, o mais pequeno número abundante. Não é de espantar que as frações com 12 no numerador abundem na esticometria de Platão. Esperemos, para ver se Jay Kennedy está na pista de algo verdadeiramente interessante.
Texto publicado na edição do Expresso de 14 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Capela de Santo António, "O Esquecido"
O Contrabaixo Patrick Süskind
O contrabaixo é assim. Quando temos visitas, ele é a vedeta. Tudo o que se diz tem a ver com ele. Se se quer estar sozinho com uma mulher, lá está ele a vigiar-nos. Se se chega a uma situação de maior intimidade… ele assiste a tudo. Temos sempre a sensação de que ele se está a divertir, que torna o acto ridículo. E claro que esta sensação se transmite à visita, e então … sabem como é, o amor físico e a sensação de ridículo têm tanto a ver um com o outro, e como isso é difícil de suportar! É deplorável! Não funciona de todo. Desculpem …
pp. 34 e 35
pp. 34 e 35
domingo, 15 de agosto de 2010
sábado, 14 de agosto de 2010
Dignidade
Fui falar-te como se fosse a uma casa de penhores
Empenhar o meu último casaco
Sem flores
Sem anéis
Sem colares
E os saltos tortos dos sapatos
Palavras não houve
Sorriso apenas meu
De pessoa serena sem passado e sem futuro
Entregaste-me a cautela dos dias inúteis
E eu assinei
Só eu sabia que vinha nua
Matilde Rosa Araújo
Foto feita na Praia da Vacaria - 08/08/10
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
3 - 1 - 1934
Tem harém o sultão, mas quem só tem
O pensamento, nunca tem harém.
Medita inutilmente em teu profundo
Coração, livre do que é mal ou bem.
Bebe e sê nada! Queiras ou não queiras,
De umas ou outras infiéis maneiras,
O teu destino invade-te como água
Quando o rio alça o curso sobre as leiras.
Quem sabe do que sabe? Quem conhece
O que é? Quem lembra sem esquecer que esquece?
Sob altos ramos, mudos fugitivos
Do sol, bebamos. Outro dia desce.
Canções de Beber na Obra de Fernando Pessoa
Fixação de texto, organização, prefácio e bibliografia de Maria Aliete Galhoz
p. 57
Foto feita em Vila Real - 13/08/10
O Contrabaixo Patrick Süskind
Aliás não conheço nenhum colega que tenha chegado de livre vontade ao contrabaixo. E de certa maneira isso até parece evidente. O instrumento não é facilmente manejável. Um contrabaixo é, como é que eu hei-de explicar, uma espécie de obstáculo como instrumento. Não se pode transportar, tem de ser arrastado, e quando cai, isso dá cabo dele. Só entra num carro, se se baixa o banco da frente. E então o carro fica praticamente cheio. Em casa é preciso andarmo-nos sempre a afastar dele. Ele está para ali … para ali, sabem, mas não como um piano! Um piano é um móvel a sério. Um piano pode fechar-se e deixar-se ficar onde está. Com ele não. Ele anda sempre por ali como …
pp. 33 e 34
pp. 33 e 34
Capela de São Brás
Templo gótico, contíguo à Igreja de São Dinis, no século XIV foi transformado num panteão familiar. Conserva elementos românicos, nomeadamente as gárgulas representando cabeças e bustos humanos. Tem no interior pinturas murais quinhentistas atribuíveis à escola do Grão Vasco e, entre outros pontos de interesse está o notável túmulo manuelino de João Teixeira de Macedo. (Monumento Nacional)
Foto feita em Vila Real - 13/08/10
Museu da Vila Velha
O Museu da Vila Velha constitui-se como o corolário das campanhas arqueológicas levadas a cabo nos últimos anos na Vila Velha. Os trabalhos desenvolvidos deram já resultados, de uma dimensão inimaginável para o público em geral. No entanto, pretende-se que esses mesmos trabalhos continuem, contribuindo assim para um acumular de informação - e de acervo - que terá como consequências mais evidentes as exposições a realizar pelo Museu da Vila Velha. Ao mesmo tempo, pretende-se aumentar o número de áreas arqueológicas visitáveis, para além das já existentes - estrutura das Portas da Vila e vestígios de malha urbana na Rua de S. Dinis.
A organização do espaço interior do Museu, com a distribuição de espaços por dois pisos, permite a definição de duas áreas expositivas: no piso inferior, uma área dedicada a exposições temporárias, de temática diversa; no piso superior, uma área para a realização de exposições de média duração, preferencialmente relacionadas com a arqueologia.
http://mvv.cm-vilareal
As Plantas Deslocam-se
as plantas deslocam-se
fendem a parte granítica da memória
os quartzos e as argilas provocam a amnésia
o corpo alimenta-se de resina
tolhe-se cintilante a um canto da casa
serão os pastores capazes de reacender o mágico fogo?
a terra incha abre-se às sementes mais amargas
o jardim abandonado nos lábios das crianças
os animais vêm beber em teus lábios
água púrpura e breves nuvens de açúcar
e no instante de um cometa eclode a última flor viva
o regresso é uma queda dolorosa de órbita em órbita
no entanto
nenhum obstáculo foi suficiente para impedir
este cíclico regresso à terra
nem mesmo o inflexível rigor da morte extravasou
os fascinados rebanhos
In O Medo
Al Berto
Foto feita na Quinta dos Olhos Bolidos - 05/08/10
O Contrabaixo Patrick Süskind
Durante uma ópera perco, em média, dois litros de líquido; num concerto sinfónico perco mais um. Conheço colegas que vão correr para a floresta, praticam pesos e halteres. Mas eu não! Qualquer dia porém, sou de tal maneira despedaçado pela orquestra, que nunca mais tenho conserto. Porque tocar contrabaixo é mera questão de energia; em princípio, isso nada tem a ver com a música. É por isso que uma criança nunca há-de tocar contrabaixo na vida. Eu próprio comecei aos dezassete. Agora tenho trinta e cinco. Não foi de livre vontade que comecei. Foi por acaso, como a virgem que se transforma em mãe.
p. 33
p. 33
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Canções de Beber na Obra de Fernando Pessoa
No I Congresso Internacional de Estudos Pessoanos, realizado no Porto em 1978, o Prof. Doutor Alexandrino Severino, da Universidade de Nashville, Estados Unidos da América, chamava a atenção, na sua comunicação, para uma composição poética publicada pelo próprio Fernando Pessoa na revista Contemporânea, 3º série, nº 3, em 1926, e não incluída até aquela data, 1978, em nenhuma edição de poesia de Fernando Pessoa. Trata-se de um rubaiyat de três elementos (uma quadra + uma quadra + uma quadra), na esteira do tipo de tradução formal que Edward Fitzgerald dera às suas versões de rubaiyat atribuídas a Omar Kayyam.
Canções de Beber na Obra de Fernando Pessoa
Fixação de texto, organização, prefácio e bibliografia de Maria Aliete Galhoz
p. 7
Imagem retirada da Net
Canções de Beber na Obra de Fernando Pessoa
Fixação de texto, organização, prefácio e bibliografia de Maria Aliete Galhoz
p. 7
Imagem retirada da Net
Rubaiyat odes ao vinho
Rubaiyat é o plural da palavra persa ruba’i que designa uma pequena composição em verso composta por duas linhas, cada uma delas com um hemistíquio ou quebra, que transforma assim essas duas linhas em quatro versos. Esta é provavelmente a origem das quadras ditas populares, mas não devemos cair em simplificações fáceis, pois o esquema rítmico da ruba’i é diferente das nossas quadras populares e também se deve dizer que, embora a ruba’i seja uma forma poética original típica da literatura persa medieval, ela provavelmente se insere numa tradição mais vasta de poemas curtos, oriunda de outras culturas orientais mesmo mais antigas.
p. 8 e 9 (1ªedição)
p. 8 e 9 (1ªedição)
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
… Vejam só … é assim que as coisas muitas vezes acontecem. O melhor desaparece, porque a roda do tempo se lhe opõe. E esta faz rolar tudo por aí abaixo. É o caso dos nossos clássicos, que, sem dó nem piedade, deitaram abaixo tudo o que se lhes opunha. Inconscientemente. Acho que não. Os nossos clássicos eram pessoas honestas. Schubert era incapaz de fazer mal a uma mosca e Mozart era às vezes um bocado agreste, mas, por outro lado, uma pessoa de rara sensibilidade e incapaz de qualquer violência. Beethoven também não. Apesar dos seus ataques de fúria. Beethoven quebrou, por exemplo, diversos pianos. Mas nunca um contrabaixo, justiça lhe seja feita.
p. 22
p. 22
Rubaiyat odes ao vinho
Omar Khayyam tem para nós a realidade histórica das lendas. As Rubaiyat que lhe são atribuídas, essas têm a consistência dos textos que se lêem e sobre os quais se podem exercer análises críticas. Mas torna-se desde logo evidente que a sua leitura se nos propõe como leitura de gosto e de prazer.
Parece até que desde o se aparecimento na cultura ocidental, através das versões do poeta inglês Edward Fitzgerarld (1858), as Rubaiyat de Omar Khayyam têm tido esse destino mágico: a leitura apaixonada, as traduções e adaptações nas mais variadas línguas, a rejeição em termos igualmente emocionais, em nome de morais ou de religiões. Mas não há dúvida de que uma moda de estilo vitoriano foi iniciada pelas versões de Fitzgerald, criando no espírito ocidental uma imagem idealizada da cultura persa do século XII e fazendo de Omar Khayyam quase uma figura folclórica ligada ao uso imoderado do vinho e aos prazeres de um erotismo exótico.
p.7
A minha edição é de 1990 (1ª edição).
Parece até que desde o se aparecimento na cultura ocidental, através das versões do poeta inglês Edward Fitzgerarld (1858), as Rubaiyat de Omar Khayyam têm tido esse destino mágico: a leitura apaixonada, as traduções e adaptações nas mais variadas línguas, a rejeição em termos igualmente emocionais, em nome de morais ou de religiões. Mas não há dúvida de que uma moda de estilo vitoriano foi iniciada pelas versões de Fitzgerald, criando no espírito ocidental uma imagem idealizada da cultura persa do século XII e fazendo de Omar Khayyam quase uma figura folclórica ligada ao uso imoderado do vinho e aos prazeres de um erotismo exótico.
p.7
A minha edição é de 1990 (1ª edição).
Sozinha no Bosque
Sozinha no bosque
Com meus pensamentos,
Calei as saudades.
Fiz trégua a tormentos.
Olhei para a Lua,
Que as sombras rasgava,
Nas trémulas águas
Seus raios soltava.
Naquela torrente
Que vai despedida.
Encontro assustada
A imagem da vida.
Do peito, em que as dores
Já iam cessar,
Revoa a tristeza
E torno a pensar.
Marquesa de Alorna
Foto feita na Quinta de S.João - 06/08/10
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Ligo a ternura eléctrica do calorífero que queima mais do que aquece e me frita a perna. A ementa não varia, como sempre a mesma coisa: tanto me faz. Pressa de voltar aqui a fim de continuar a escrever. Leio a última frase e avanço aos solavancos, este é um ofício esquisitíssimo. Quando lerem nem sonham o que penei nas frases. Quer dizer, espero que nem sonhem o que penei nas frases. Tem de parecer fluido, fácil. Que dia é hoje? Sei lá, tanto faz. Tanto faz? Tanto faz. Um relâmpago e logo a seguir sons de penedos enormes a caírem uns por cima dos outros. Se tivesse quinze anos outra vez jantava com os meus pais, os meus irmãos. Tenho saudades disso, de fazer parte de uma família. Esperar, aflitinho, diante do quarto de banho fechado. Se batiam à porta avisava-se
- Está gente
num berro que os azulejos ampliavam. Pode parecer ridículo mas adorava voltar a fazer cocó em Benfica. A banheira com patas de leão, o esquentador pré-histórico, os perfumes da minha mãe numa mesa, o cheiro da laca dela, a brilhantina do meu pai, o pente sempre gorduroso, a escova com que alisava o cabelo apertando-o nas têmporas. Era o único de nós que fazia a barba. Acho que também não visitou as Bermudas nem Marrocos nem Porto Rico. Saía para o hospital de manhã, voltava ao fim do dia e tudo cheirava a cachimbo. Achava esquisito que tratasse o meu avô por pai, pai era ele, o meu avô era avô. Esse fazia a barba também. O mundo inteiro fazia a barba menos eu.Sinto a falta da rapariga lá em baixo, à chuva, preocupo-me com o que lhe terá acontecido. Nem quero pensar que a água das valetas a levou, de mistura com as folhas caídas.
António Lobo Antunes
Excerto retirado da Revista Visão nº909
Foto feita na Quinta dos Olhos Bolidos - 05/08/10
O Contrabaixo Patrick Süskind
Qualquer músico vos poderá assegurar, de boa vontade, que uma orquestra dispensa sempre o maestro, mas nunca o contrabaixo. (…)
Aonde eu quero chegar é à constatação de que o contrabaixo é, sem dúvida o instrumento orquestral mais importante. Mas nisso ninguém repara.
Sobre ele se constrói a estrutura de base da totalidade orquestral, sobre que assenta a orquestra, incluindo o maestro. O baixo é, portanto, o alicerce a partir do qual se eleva esta magnífica construção, visto como imagem, claro. Experimentem retirar o baixo e verão como resultado a mais pura confusão linguística, Sodoma, onde deixa de se saber, porque é que afinal se faz música.
pp. 6,7 e 8
Aonde eu quero chegar é à constatação de que o contrabaixo é, sem dúvida o instrumento orquestral mais importante. Mas nisso ninguém repara.
Sobre ele se constrói a estrutura de base da totalidade orquestral, sobre que assenta a orquestra, incluindo o maestro. O baixo é, portanto, o alicerce a partir do qual se eleva esta magnífica construção, visto como imagem, claro. Experimentem retirar o baixo e verão como resultado a mais pura confusão linguística, Sodoma, onde deixa de se saber, porque é que afinal se faz música.
pp. 6,7 e 8
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