A minha infância foi passada nos anos 70, no bairro da Pena, o mesmo onde nasceu a Amália. Lembro-me de ver as peixiras descalças a subir a calçada. Lembro-me de só uma pessoa ter carro lá no bairro. brincava na rua, os meus filhos não brincam na rua. Os meus filhos vão lembra-se daqui a uns anos da vida de condomínio, eu lembro-me da vida de rua. Ter vivido nesse bairro foi mais importante do que assistir ao 25 de Abril. Claro que o 25 de Abril foi importante, os anos 80 foram importantes, hoje choro quando oiço as Doce. É isso: chamaria, antes, à minha geração a "geração bem bom". Não me parece que tenhamos tido azar. Todas as gerações são abençoadas, se tiverem noção disso. Agora temos a geração dos recibos verdes. Mas na casa deles ainda não chove.
Rui Zink
Pública, Hoje
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